domingo, 20 de dezembro de 2009

Ontem, hoje, amanhã.

É domingo.
Acordei às sete e meia, fiz café, amei o cheiro e a luz da manhã e me senti numa música do Lô Borges. Comecei a pensar no ano que passou. Pela primeira vez eu sei quem eu sou. E gosto.
A gata ronca na poltrona, o silêncio é interrompido pelo caminhão de lixo rosnando. Foi. Silêncio de novo.
Ontem eu aprendi a usar uma furadeira.
É que nem viver, que não tem segredo. Só dá trabalho.
Tenho me comprazido com trabalho.
Depois, naquela hora do dia em que acabam os afazeres e a casa fica quieta, eu posso olhar o meu obrar como eu olhava as pinturas que eu mais gostava no museu-faz silêncio dentro.
Estou apaixonada pela continuidade do tempo

sábado, 19 de dezembro de 2009

Os pequenos

Olhar adultos olhando crianças me encanta.
Eles parecem se fascinar pela falta de um medo que eles também, um dia, já devem ter sentido (a falta, não o medo). Olhar afetuosamente pruma criança é sempre uma forma de recuperação. E um jeito de se entender no mundo e fazê-lo mais pão com manteiga.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Sagrado

Dança, quando é de verdade, é simples e te faz entender. É uma espécie de sexo bom que só engravida se você quiser. E nem precisa tomar a pílula.

O bicho esquisito que todo mês sangra

Menstruação. Eu achava a própria palavra meio horripilante, com aquele monstruoso encontro consonantal lá no meio. São quatro consoantes descendo a ladeira aos trombolhões, todas tortas e chega uma hora elas batem de cara com a cedilha, só o u e o a no meio, meio tirando sarro de tanta falta de jeito. A minha primeira foi com doze anos.
Tomei um susto, mesmo sabendo sobre os pássaros e abelhas daquele jeito que mamãe e a professora de ciência tinham informado. Logo começou aquela coisa de querer brincar de boneca e beijar na boca ao mesmo tempo e o medo se sujar as calças em público e a minha mãe me deu os pêsames pelo incômodo. Assim eu fui descobrindo que ser mulher aparentemente era ser portadora de deficiência: arranca pelo, encolhe barriga, faz regime, bota salto, pinta a boca, aperta os peitos, fecha as pernas. Só sendo um monstro natural pra precisar de tanta correção, não é mesmo? Demorei vinte e poucos anos pra fazer as pazes com tudo isso. Menos com os sutiãs. Esses serão meus inimigos para sempre.
Quanto à menstruação, gosto dela agora. É como uma prima chamada Asdrualda,nome estranho, gente boa. Minha amiga, nunca me deixou na mão, e francamente, quando vem me visitar me dá muita alegria. Então, resolvi comprar um presentinho de natal pra ela. Li umas pesquisas sobre absorventes femininos descartáveis, e fiquei encucada com a questão da segurança química deles, além de ficar ainda mais bolada com algo que me incomoda muito - eles são plásticos e podres em termos de meio ambiente. Daí eu vi uns de pano muito fofos, aparentemente espertos em questão de design e limpeza, e resolvi começar a cumprir minhas promessas de ano novo: ação. Comprei.
Vamos ver como funciona.
Mas o engraçado foi que, enquanto eu pesquisava o assunto, me deparei com comentários muito interessantes a respeito dos trocinhos. Existem comunidades no orkut a favor, fóruns de discussão, mulheres furiosas se revoltando contra quem usa, outras opções de absorventes ecológicos, o moon cup, etc, etc.
Aparentemente, é todo um mundo de possibilidades e paixões.
Achei engraçado.

Aqui começa a parte dois

Certeza: Ter ventre é ter centro.
Vou começar pelo fim, pelo balanço do ano que acaba.
Um ano em que tudo se concluiu.
É, acabou. Agora tudo começa de novo, e está tudo diferente.
Eu tenho uma prancha de surf, uma medalha de Santo Antônio,
A capacidade de dançar, muita força e muita fé.
Eu tenho a continuidade do tempo.
E me despeço dos que precisaram ficar pra trás
E vou abrindo o peito pros que vem pela frente
E faço biscoitos
E arrumo a casa
E guardo os diários velhos numa caixa.
Por que eles se tornaram relíquias de uma outra vida de gato.
Pela minha conta a que começa agora é a minha quarta.
Que venga!